Oração: Senhor,
concedei-nos pela intercessão de Santo Antão o desejo sincero de buscar, no
silêncio da alma, a Vossa vontade para a nossa vida, e a radicalidade de
segui-la, bem como a fortaleza contra todas as tentações e intimidações do
demônio, que normalmente se manifestam das formas mais sutis e agradáveis. Por
Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora, vencedores do diabo e do mundo.
Amém.
Evangelho (Mc 2,1-12):
Alguns
dias depois, Jesus passou novamente por Cafarnaum, e espalhou-se a notícia de
que ele estava em casa. Ajuntou-se tanta gente que já não havia mais lugar, nem
mesmo à porta. E Jesus dirigia-lhes a palavra.
Trouxeram-lhe um paralítico, carregado por quatro homens. Como não conseguiam
apresentá-lo a ele, por causa da multidão, abriram o teto, bem em cima do lugar
onde ele estava e, pelo buraco, desceram a maca em que o paralítico estava
deitado. Vendo a fé que eles tinham, Jesus disse ao paralítico: «Filho, os teus
pecados são perdoados».
Estavam ali sentados alguns escribas, que no seu coração pensavam: «Como pode
ele falar deste modo? Está blasfemando. Só Deus pode perdoar pecados»! Pelo seu
espírito, Jesus logo percebeu que eles assim pensavam e disse-lhes: «Por que
pensais essas coisas no vosso coração? Que é mais fácil, dizer ao paralítico:
‘Os teus pecados são perdoados’, ou: ‘Levanta-te, pega a tua maca e anda’? Ora,
para que saibais que o Filho do Homem tem na terra poder para perdoar pecados —
disse ao paralítico — eu te digo: levanta-te, pega a tua maca, e vai para
casa!»
O paralítico se levantou e, à vista de todos, saiu carregando a maca. Todos
ficaram admirados e louvavam a Deus dizendo: «Nunca vimos coisa igual!».
«Filho, os teus
pecados são perdoados(...)Levanta-te, pega a tua maca e anda» - (Rev. D. Joan
Carles MONTSERRAT i Pulido(Cerdanyola del Vallès, Barcelona, Espanha)
Hoje,
vemos novamente Jesus rodeado de uma multidão: «Ajuntou-se tanta gente que já
não havia mais lugar, nem mesmo à porta» (Mc 2,2). O Seu coração abre-se
perante as necessidades dos outros e faz-lhes todo o bem possível: perdoa,
ensina e cura ao mesmo tempo. Dá-lhes certamente ajuda a nível material (no
caso de hoje, fá-lo curando-o de uma paralisia), mas — no fundo— procura o
melhor e o primeiro para cada um de nós: o bem da alma.
Jesus Salvador quer deixar-nos uma esperança certa de salvação: Ele é capaz até
de perdoar os pecados e de se compadecer da nossa debilidade moral. Antes de
mais, diz taxativamente: «Filho, os teus pecados são perdoados» (Mc 2,5).
Depois, contemplamo-lo associando o perdão dos pecados —que dispensa generosa e
incansavelmente— a um milagre extraordinário, “palpável” aos nossos olhos
físicos. Como uma espécie de garantia externa, para nos abrir os olhos da fé,
depois de declarar o perdão dos pecados do paralítico, cura-o da paralisia: «Eu
te digo: levanta-te, pega a tua maca, e vai para casa! O paralítico se levantou
e, à vista de todos, saiu carregando a maca» (Mc 2,11-12).
Podemos reviver frequentemente este milagre na Confissão. Nas palavras da
absolvição que o ministro de Deus pronuncia («Eu te absolvo em nome do Pai, do
Filho e do Espírito Santo») Jesus oferece-nos novamente — de maneira discreta—a
garantia externa do perdão dos nossos pecados, garantia equivalente à cura
espetacular que realizou com o paralítico de Cafarnaúm.
Começamos agora um novo tempo comum. E recorda-se a nós, os crentes a
necessidade urgente que temos de um encontro sincero e pessoal com Jesus
misericordioso. Neste tempo, Ele convida-nos a não fazer “descontos”, a não
descuidar o perdão necessário que Ele nos oferece no Seu seio, na Igreja.
Santo Antonio do Deserto ou Antão do Egito
Antão nasceu em 251 no Egito, em família cristã e abastada. Seus pais morreram quando contava entre 18 e 20 anos, deixando para ele e sua única irmã, bem mais nova, uma certa fortuna material, e outra espiritual muito maior. Entrando numa igreja, ouviu o Evangelho que diz: “Se queres ser perfeito, vende o que tens e dá-o aos pobres, depois vem, segue-me e terás um tesouro no céu” (Mt 19,21). Decidiu então doar os seus bens aos pobres e dedicar-se radicalmente à vida eremítica e ascética, mas reservou algo para garantir o sustento da irmã. Porém, novamente, entrando na igreja, ouviu a passagem: “Não vou preocupeis, pois, com o dia de amanhã. O dia de amanhã terá as suas preocupações próprias. A cada dia basta o seu cuidado”(Mt 6,34). Então doou também esta reserva, e entregou a irmã aos cuidados de virgens conhecidas e de confiança. Era comum aos que procuravam a vida eremítica retirar-se para alguma região isolada próxima da cidade onde habitavam, e assim fez Antão. Procurou contudo aprender sobre este tipo de vida visitando outros ascetas, só voltando para o seu retiro depois de absorver ensinamentos espirituais. Santo Antão foi terrivelmente tentado pelo demônio, que, conforme Santo Atanásio, biógrafo de Antão, não suportava a sua decisão de vida radicalmente santa. Inicialmente o diabo tentou fazê-lo abandonar a vida ascética com a recordação da sua irmã, dos seus bens, da boa mesa e coisas agradáveis da vida, mas nada conseguiu. A seguir foram as tentações do prazer sensual, quando o diabo chegou a aparecer como mulher durante a noite. Antão permaneceu casto, perseverando na oração, jejuns e mortificações; e decidiu mudar-se para os sepulcros de um cemitério próximo à aldeia, numa região, portanto, mais afastada. Ali vários demônios o açoitaram selvagemente numa noite, de modo que Antão ficou no chão, sem fala por causa da dor. Assim o encontrou um parente seu no dia seguinte, ao lhe levar pão, e o transportou para a igreja da aldeia, onde ficou prostrado como morto até a noite seguinte. Antão pediu para ser levado de volta ao sepulcro, e depois de rezar, ainda deitado pela fraqueza, gritou ao diabo que estava de volta, não acovardado com os golpes; os demônios retornaram, agora sob a forma de animais ferozes que o ameaçavam, mas ele debochou deste ataque, afirmando que, se de fato tivessem poder sobre ele, bastaria que viesse um só deles. Então um raio de luz baixou pelo teto sobre Antão, e os demônios sumiram. Antão, já sem dores, levantou-se e rezou, com o corpo mais forte do que antes. Depois disso, ele se retirou para um deserto. Mas sua santidade atraía discípulos, e, muito procurado, internou-se ainda mais no ermo, numa gruta. Ainda assim, formou-se ao seu redor uma comunidade cenobítica, onde cada monge vivia sozinho e isolado, mas em contato e sob a sua direção espiritual. Pela terceira vez, Antão aprofundou-se no deserto, a três dias de caminhada, vivendo completamente só por 18 anos. E novamente vieram discípulos. Então ele compreendeu que a caridade é superior à solidão e à própria oração. De toda a forma, sempre que novos discípulos perguntavam por ele no cenóbio, a resposta era procurar a pessoa mais alegre, sorridente e espontânea do local: austero consigo mesmo, ele era afável com os irmãos. Apesar da busca de vida solitária, Antão nunca deixou de ajudar pessoalmente os demais, quando necessário. Assim, durante a perseguição de Dioclesiano, foi a Alexandria para apoiar a fé dos cristãos e, se necessário, ser martirizado. Aí voltou para combater os arianos, em auxílio do amigo Santo Atanásio, perseguido por estes hereges. Santo Antão faleceu em 17 de janeiro de 356, com 105 anos, e é considerado o pai do monaquismo cristão.(Colaboração: José Duarte de Barros Filho)
Reflexão: Ainda que a vocação
particular de Santo Antão seja incomum, o seu exemplo de radicalidade no
seguimento ao chamado de Deus – qualquer que seja – pode e deve ser seguido. A
qualidade de sua vida é maior do que a quantidade de anos que viveu: se é tão
conhecido, e de fato tem enorme fama no mundo católico, é por causa da virtude
da sua intimidade com Deus, e não por seus escritos, habilidades ou capacidades
pessoais, como afirma Santo Atanásio.
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