Oração: Senhor, concedei-nos pela intercessão de Santo
Antão o desejo sincero de buscar, no silêncio da alma, a Vossa vontade para a
nossa vida, e a radicalidade de segui-la, bem como a fortaleza contra todas as
tentações e intimidações do demônio, que normalmente se manifestam das formas
mais sutis e agradáveis. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora,
vencedores do diabo e do mundo. Amém.
Evangelho (Mc 3,1-6):
Outra vez, Jesus entrou na sinagoga, e lá estava um
homem com a mão seca. Eles observavam se o curaria num dia de sábado, a fim de
acusá-lo. Jesus disse ao homem da mão seca: «Levanta-te! Vem para o meio!» E
perguntou-lhes: «Em dia de sábado, o que é permitido: fazer o bem ou fazer o
mal, salvar uma vida ou matar?» Eles ficaram calados. Passando sobre eles um
olhar irado, e entristecido pela dureza de seus corações, disse ao homem:
«Estende a mão!» Ele estendeu a mão, que ficou curada. Saindo daí, imediatamente
os fariseus, com os herodianos, tomaram a decisão de eliminar Jesus.
«Em dia de sábado, o que é permitido: fazer o bem ou fazer o mal, salvar uma vida ou matar?» - Rev. D. Joaquim MESEGUER García(Rubí, Barcelona, Espanha)
Hoje, Jesus ensina-nos que há de obrar o bem o
tempo todo: não há um tempo para fazer o bem e outro para descuidar o amor aos
demais. O amor que vem de Deus conduz-nos à Lei suprema que deixou-nos Jesus no
novo mandamento: Amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei» Jesus não derroga
nem critica a Lei de Moisés, já que Ele mesmo cumpre seus preceitos e acode à
sinagoga o sábado; o que Jesus critica é a interpretação estreita da Lei que
fizeram os mestres e os fariseus, uma interpretação que deixa pouco lugar à
misericórdia.
Jesus Cristo veio proclamar o Evangelho da salvação, mas seus adversários,
longe de deixar-se persuadir, procuram pretextos contra Ele; «Outra vez, Jesus
entrou na sinagoga, e lá estava um homem com a mão seca. Eles observavam se o
curaria num dia de sábado, a fim de acusá-lo» (Mc 3,1). Ao mesmo tempo que
vemos a ação da graça, constatamos a dureza do coração de uns homens orgulhosos
que acreditam ter a verdade do seu lado. Experimentaram alegria os fariseus ao
ver aquele pobre homem com a saúde restabelecida? Não, pelo contrário,
obcecaram-se ainda mais, até o ponto de fazer acordos com o herodianos —seus
inimigos naturais— para ver perder a Jesus, curiosa aliança!
Com sua ação, Jesus libera também o sábado das cadeias com as que o tinham
amarrado os mestres da Lei e os fariseus e, lhe restituem seu verdadeiro
sentido: dia de comunhão entre Deus e o homem, dia de liberação da escravidão,
dia da salvação das forças do mal. Santo Agostinho disse: «Quem tem a
consciência em paz, está tranquilo e, essa mesma tranquilidade é o sábado do
coração». Em Jesus Cristo, o sábado abre-se já o dom do domingo.
Santo Antonio do Deserto ou Antão do Egito
Antão nasceu em 251 no Egito, em família cristã e abastada. Seus pais morreram quando contava entre 18 e 20 anos, deixando para ele e sua única irmã, bem mais nova, uma certa fortuna material, e outra espiritual muito maior. Entrando numa igreja, ouviu o Evangelho que diz: “Se queres ser perfeito, vende o que tens e dá-o aos pobres, depois vem, segue-me e terás um tesouro no céu” (Mt 19,21). Decidiu então doar os seus bens aos pobres e dedicar-se radicalmente à vida eremítica e ascética, mas reservou algo para garantir o sustento da irmã. Porém, novamente, entrando na igreja, ouviu a passagem: “Não vou preocupeis, pois, com o dia de amanhã. O dia de amanhã terá as suas preocupações próprias. A cada dia basta o seu cuidado”(Mt 6,34). Então doou também esta reserva, e entregou a irmã aos cuidados de virgens conhecidas e de confiança. Era comum aos que procuravam a vida eremítica retirar-se para alguma região isolada próxima da cidade onde habitavam, e assim fez Antão. Procurou contudo aprender sobre este tipo de vida visitando outros ascetas, só voltando para o seu retiro depois de absorver ensinamentos espirituais. Santo Antão foi terrivelmente tentado pelo demônio, que, conforme Santo Atanásio, biógrafo de Antão, não suportava a sua decisão de vida radicalmente santa. Inicialmente o diabo tentou fazê-lo abandonar a vida ascética com a recordação da sua irmã, dos seus bens, da boa mesa e coisas agradáveis da vida, mas nada conseguiu. A seguir foram as tentações do prazer sensual, quando o diabo chegou a aparecer como mulher durante a noite. Antão permaneceu casto, perseverando na oração, jejuns e mortificações; e decidiu mudar-se para os sepulcros de um cemitério próximo à aldeia, numa região, portanto, mais afastada. Ali vários demônios o açoitaram selvagemente numa noite, de modo que Antão ficou no chão, sem fala por causa da dor. Assim o encontrou um parente seu no dia seguinte, ao lhe levar pão, e o transportou para a igreja da aldeia, onde ficou prostrado como morto até a noite seguinte. Antão pediu para ser levado de volta ao sepulcro, e depois de rezar, ainda deitado pela fraqueza, gritou ao diabo que estava de volta, não acovardado com os golpes; os demônios retornaram, agora sob a forma de animais ferozes que o ameaçavam, mas ele debochou deste ataque, afirmando que, se de fato tivessem poder sobre ele, bastaria que viesse um só deles. Então um raio de luz baixou pelo teto sobre Antão, e os demônios sumiram. Antão, já sem dores, levantou-se e rezou, com o corpo mais forte do que antes. Depois disso, ele se retirou para um deserto. Mas sua santidade atraía discípulos, e, muito procurado, internou-se ainda mais no ermo, numa gruta. Ainda assim, formou-se ao seu redor uma comunidade cenobítica, onde cada monge vivia sozinho e isolado, mas em contato e sob a sua direção espiritual. Pela terceira vez, Antão aprofundou-se no deserto, a três dias de caminhada, vivendo completamente só por 18 anos. E novamente vieram discípulos. Então ele compreendeu que a caridade é superior à solidão e à própria oração. De toda a forma, sempre que novos discípulos perguntavam por ele no cenóbio, a resposta era procurar a pessoa mais alegre, sorridente e espontânea do local: austero consigo mesmo, ele era afável com os irmãos. Apesar da busca de vida solitária, Antão nunca deixou de ajudar pessoalmente os demais, quando necessário. Assim, durante a perseguição de Dioclesiano, foi a Alexandria para apoiar a fé dos cristãos e, se necessário, ser martirizado. Aí voltou para combater os arianos, em auxílio do amigo Santo Atanásio, perseguido por estes hereges. Santo Antão faleceu em 17 de janeiro de 356, com 105 anos, e é considerado o pai do monaquismo cristão.(Colaboração: José Duarte de Barros Filho)
Reflexão: Ainda que a vocação particular de Santo Antão
seja incomum, o seu exemplo de radicalidade no seguimento ao chamado de Deus –
qualquer que seja – pode e deve ser seguido. A qualidade de sua vida é maior do
que a quantidade de anos que viveu: se é tão conhecido, e de fato tem enorme
fama no mundo católico, é por causa da virtude da sua intimidade com Deus, e
não por seus escritos, habilidades ou capacidades pessoais, como afirma Santo
Atanásio.
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