BOM DIA EVANGELHO
28 DE AGOSTO
DE 2024 - Quarta-feira
da 21ª semana do Tempo Comum
Oração: Deus de infinita paciência, que por séculos preparastes a Redenção, e
nos aguardais com amor assíduo, concedei-nos por intercessão de Santo Agostinho
de Hipona a sinceridade da busca e da conversão a Vós, ao longo de toda a nossa
vida, e a honestidade de perseverarmos sempre mais no crescimento da santidade,
até que o amor por Vós chegue à indiferença por nós mesmos”. Por Nosso Senhor
Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.
Evangelho (Mt 23,27-32)
Naquele tempo, disse Jesus: «Ai de vós, escribas e
fariseus hipócritas! Sois como sepulcros caiados: por fora parecem belos, mas
por dentro estão cheios de ossos de cadáveres e de toda podridão! Assim também
vós: por fora, pareceis justos diante dos outros, mas por dentro estais cheios
de hipocrisia e injustiça. Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Construís
sepulcros para os profetas e enfeitais os túmulos dos justos, e dizeis: ‘Se
tivéssemos vivido no tempo de nossos pais, não teríamos sido cúmplices da morte
dos profetas’. Com isso, confessais que sois filhos daqueles que mataram os
profetas. Vós, pois, completai a medida de vossos
pais!
«Ai
de vós, escribas e fariseus hipócritas!» - Rev. D. Lluís ROQUÉ i Roqué(Manresa,
Barcelona, Espanha)
Hoje, assim como nos dias anteriores e nos que
seguiram, contemplamos Jesus fora de si, condenando atitudes incompatíveis com
um viver digno, não somente cristão, mas também humano: «Por fora, pareceis
justos diante dos outros, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e
injustiça» (Mt 23,28). Vem confirmar que a sinceridade, a honestidade, a
lealdade, a nobreza..., são virtudes amadas por Deus, e também, muito
valorizadas pelo homem.
Para evitar, portanto, a hipocrisia, devo ser muito sincera. Em primeiro lugar
com Deus, porque me quer limpo de coração, e que eu deteste toda mentira por
ser Ele totalmente puro, a Verdade absoluta. Em segundo lugar, comigo mesmo,
para não ser eu o primeiro a ser enganado, expondo-me a cometer um pecado
contra o Espírito Santo por não reconhecer meus próprios pecados nem deixá-los
de manifestar claramente no sacramento da Penitência, ou por não confiar
suficientemente em Deus, que nunca condena quem faz como o filho pródigo, nem
perde ninguém por ser um pecador, mas por não reconhecer-se como tal. Em
terceiro lugar, com os outros, já que também —como a Jesus — a todos coloca
fora de si, a mentira, o engano, a falta de sinceridade, de honradez, de
lealdade, de nobreza..., e, por isso mesmo, havemos de nos aplicar o princípio:
«O que não quer para você, não o deseje para ninguém».
Essas três atitudes —que são do senso comum — as temos que tornar nossas para
evitar cair na hipocrisia, e devemos tomar consciência da necessidade da graça
santificante, por causa do pecado original provocada pelo “pai da mentira”: o
diabo. Por isso levaremos em conta o conselho de São Josemaria: «Na hora da
prova, ide prevenido contra o demônio mudo»; teremos também presente a
Orígenes, que diz: «Uma falsa santidade jaz morta, porque não trabalha movida
por Deus», e nós nos regeremos sempre, pelo princípio elementar e simples
proposto por Jesus: «Seja o vosso ‘sim, sim ’; e o vosso ‘não, não’» (Mt 5,37).
Maria não se esvai em palavras, mas o seu sim ao bem, à graça, foi único e
verdadeiro; seu não ao mal, ao pecado, foi rotundo e sincero.: Quem desesperará
de si mesmo quando este alcança a graça?» (Santo Ambrósio).
Santo Agostinho
Aurélio Agostinho nasceu em Tagaste, antiga
cidade da Numídia. atual Argélia no norte da África, no ano de 354. Filho
primogênito de Santa Mônica e de Patrício, rude pagão que depois viria a se
converter ao Catolicismo. Teve um irmão, Navígio, e uma irmã,
Perpétua, que viria a ser religiosa. Com inteligência superior, aos 11 anos estudou
inicialmente em Madauro, perto de Tagaste. Aprendeu ali sobre
literatura latina mas também sobre o paganismo local e romano. Sua mãe o educara na Fé católica, mas a
inconstância, o espírito de insubordinação e a impetuosidade de caráter de
Agostinho a levara a adiar o seu batismo, com medo que ele viesse a
profanar o Sacramento. E realmente, aos 16 anos, tendo ido estudar
Retórica, Filosofia e Literatura em Cartago, adotou uma vida desregrada. Seu pai tinha preocupação apenas em que
tivesse boas notas, brilhasse nas festas sociais e se destacasse nas atividades
físicas; com 17 anos, quando seu pai morreu, Agostinho estava
corrompido pelo jogo e pela luxúria, e passara a seguir uma seita maniqueísta,
onde há um deus bom e outro mau. O hedonismo, a ideia de que o prazer é o
fim único da vida, o levou a juntar-se dois anos depois com uma mulher
cartaginesa, da qual teve um filho, Adeodato. Aos 20 anos, Agostinho era professor
conceituado de Retórica em Cartago. Mas sua mente inquieta não estava
satisfeita. Ao ler “Hortensius”, de Cícero, começou a buscar
a sabedoria: “A felicidade – escreveu o grande romano –
consiste nos bens que não perecem: sabedoria, verdade, virtudes”. Esta
busca o levou a estudar e conhecer diferentes propostas filosóficas, ao longo
do tempo. Em 382, procurando algo que o satisfizesse interiormente, e
ao mesmo tempo querendo evitar as admoestações de sua mãe, usou de um
estratagema para deixá-la no porto de Cartago, enquanto embarcava com a amante e
Adeodato para Roma. Lá teve apoio dos maniqueístas e abriu uma
escola, mas já não estava satisfeito com esta seita. Em 384 obtém a
cátedra de Retórica na corte imperial em Milão, onde passa a seguir o ceticismo.
Nesta cidade estava o bispo Santo Ambrósio, cujos brilhantes sermões começaram
a interessá-lo pela refinada técnica oratória e dialética. Ao aspecto
intelectual foi acrescentado o espiritual, o conteúdo das pregações, e
Agostinho começou a se questionar quanto ao Catolicismo. Mônica já se mudara também para Milão, para
estar mais perto do filho, e suas orações e lágrimas, partilhadas e orientadas
por Ambrósio, de quem se aproximou, começaram a dar frutos. Atormentado,
Agostinho leu tanto variadas obras filosóficas quanto a Bíblia, interessando-se
pelos pensadores gregos e pelos ascetas cristãos. Mas ele buscava a
Verdade, e seguindo um impulso interno – como uma voz interior, certamente uma
moção do Espírito Santo – que lhe dizia “Pega e lê!”, abriu
uma das cartas de São Paulo, em Rm 13,13-14: “Vivamos honestamente, como
quem vive à luz do dia. Nada de comilanças ou bebedeiras, nem volúpias, nem
luxúrias, nem brigas, nem rivalidades. Pelo contrário, revesti-vos de Jesus
Cristo e não tenhais preocupações com a carne, para satisfazer as suas concupiscências”. Estas
palavras, e o que ouvira de Santo Ambrósio, o decidiram finalmente. Encerrou o
relacionamento indecoroso de 13 anos com a amante, que voltou para a África,
abandonou os vícios e maus costumes, e preparou-se para o Batismo. Tanto
ele, aos 33 anos, como Adeodato, com 15, foram batizados por Santo Ambrósio na
catedral de Milão, na Páscoa de 387. Não muito tempo depois, Adeodato morreu, e
Santa Mônica, junto com Agostinho e seu irmão Navígio, decidiram voltar para
Tagaste. No porto de Óstia, próximo de Roma, Mônica, depois de
constatar que a sua missão nesta vida fôra completada com a conversão do filho,
é acometida por uma misteriosa e fulminante febre, falecendo em poucos dias.
Agostinho depois escreveria dela: “Pela carne, me concebeu para a
vida temporal, e pelo coração me fez nascer para a eterna” (“Confissões”,
IX-8). Sepultada Santa Mônica, Agostinho seguiu para Tagaste, onde chegando em
388, junto com alguns amigos iniciou uma vida monástica com uma regra escrita
por ele mesmo. Dedicavam-se à oração, à meditação, ao estudo da Bíblia e a
obras de caridade. Em 390 ou 391, o Bispo Valério de Hipona o
ordenou sacerdote, e com o seu falecimento em 396, Agostinho foi aclamado pelo
povo como seu sucessor. Por 34 anos fica à frente da diocese e
desenvolve um trabalho portentoso, de alcance verdadeiramente católico, isto é,
universal, e de verdade perene. Agostinho foi um bispo sempre atento às
necessidades espirituais e materiais dos fiéis, ensinando a Doutrina com toda a
ortodoxia e combatendo heresias, e cuidando caridosamente dos pobres. Como
mestre incontestável de espiritualidade, a demonstrou por palavras faladas e
escritas, e por ações. A sua primeira comunidade deu origem a muitas
ordens e congregações, masculinas e femininas, que seguiram as inspirações da
Regra que escreveu para ela. Segundo seu primeiro biógrafo, ele “deixou
à Igreja um clero muito numeroso, assim como mosteiros de homens e de mulheres
cheios de pessoas dedicadas à continência sob a obediência dos seus
superiores, juntamente com as bibliotecas que contêm livros e
discursos seus e de outros santos […]”. É considerado o mais profundo
pensador do mundo antigo, bem como um dos mais importantes teólogos e filósofos
da Patrística na Igreja, influenciando e iluminando até hoje o pensamento
universal, divulgado na imensa obra escrita – mais de mil publicações –
que deixou e que abarca os mais diversos temas filosóficos, doutrinais,
apologéticos, morais, monásticos, teológicos e exegéticos. Além disso,
muitas de suas homilias transcritas serviram de modelo e inspiração para os
religiosos ao longo do tempo. Santo Agostinho faleceu em Hipona, então sob
invasão bárbara e perseguição aos católicos, em 28 de agosto do ano 430, com 76
anos. É Doutor da Igreja e um dos luminares da Patrística. A sua incessante busca pela Verdade enriqueceu
a Igreja, e sobretudo pelas suas obras a Idade Média teve acesso à antiguidade
cristã. Seus escritos são fundamentais na formação de toda a cultura do
Ocidente; segundo Paulo VI, “Pode-se dizer que todo o pensamento da
Antiguidade conflui na sua obra e dela derivam correntes de pensamento que
permeiam toda a tradição doutrinal dos séculos sucessivos”. Acima de
tudo, Santo Agostinho é o Doutor da Graça não somente por ter ensinado como ela
opera, mas porque é a prova mesma de como podemos – se o permitimos – ser
totalmente transformados por ela: seu exemplo pessoal mostra como alguém que
não tinha forças para deixar o pecado foi tomado e imerso na Graça de
Deus: “porque é Ele próprio que começa, fazendo com que queiramos, e é
Ele que acaba, cooperando com aqueles que assim querem”. Das suas principais obras, que incluem “A
Trindade” (em 15 livros), “O Livre Arbítrio” (em três volumes), “A Graça” (em
dois livros, com sete partes no total) e “Comentários Bíblicos” (do Antigo e
Novo Testamentos), talvez as amais conhecidas sejam “Confissões” e “Cidade de
Deus”. A primeira (em 13 livros) é como que uma sua autobiografia
espiritual e um hino de louvor ao Senhor, onde confessa tanto a sua miséria
espiritual, dos seus pecados, quanto a grandeza de Deus, que o redimiu. A
segunda (em 22 livros) trata da relação entre a Fé a política, retratada nas
aspirações da alma e os desejos mundanos, e influenciou diretamente a
Teologia cristã e o pensamento político ocidental. Foi escrita no contexto do
saque de Roma pelos visigodos em 410, e das críticas pagãs de que Roma estava
mais segura na época das divindades pagãs do que com o Cristo. Em resumo,
mostra a Humanidade dividida (desde Adão e Eva, diríamos…) entre dois amores: o
amor a si mesmo, “até à indiferença por Deus”, e o amor a Deus, “até
à indiferença por si mesmo”.(Colaboração: José Duarte de Barros Filho)
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