Oração: Deus Pai, que quereis Vossos filhos numa única família de mesmo Sangue, o de Cristo, concedei-nos vivenciar a amizade que juntou os Sete Santos Fundadores dos Servitas aos pés da Cruz, com Maria; por sua intercessão, sabermos nos desapegar dos bens materiais para viver a riqueza da caridade para com os irmãos; e pelo exemplo deles reagir com os ensinamentos evangélicos às guerras, tentações, pecados e perseguições deste mundo. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora, que no cenário do Monte Gólgota venceram as dores pelo Amor e levaram à perfeição o seguimento da Vossa vontade. Amém.
Evangelho (Mc 8,34-9,1):
Chamou,
então, a multidão, juntamente com os discípulos, e disse-lhes: «Se alguém quer
vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me! Pois quem quiser
salvar sua vida a perderá; mas quem perder sua vida por causa de mim e do
Evangelho, a salvará. De fato, que adianta alguém ganhar o mundo inteiro, se
perde a própria vida? E que poderia alguém dar em troca da própria vida? Se
alguém se envergonhar de mim e de minhas palavras diante desta geração adúltera
e pecadora, também o Filho do Homem se envergonhará dele, quando vier na glória
do seu Pai, com seus santos anjos». E disse-lhes: «Em verdade vos digo: alguns
dos que estão aqui não provarão a morte, sem antes terem visto o Reino de Deus
chegar com poder».
«Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me!» - Rev. D. Joaquim FONT i Gassol(Igualada, Barcelona, Espanha)
Hoje o
Evangelho nos fala sobre dois temas contemporâneos¬: a nossa cruz de cada dia e
o seu fruto, quer dizer, a Vida em maiúscula, sobrenatural e eterna.
Ficamos de pé para escutar o Santo Evangelho, como símbolo de querermos seguir
os seus ensinamentos. Jesus diz que nos neguemos a nos mesmos, clara expressão
de não seguir o “gosto dos caprichos” —como menciona o salmo— ou de afastar «as
riquezas enganadoras», como diz São Paulo. Tomar a própria cruz é aceitar as
pequenas mortificações que cada dia encontramos pelo caminho.
Pode-nos ajudar para isso a frase que Jesus disse no sermão sacerdotal, no
Cenáculo: «Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que
não dá fruto em mim, ele corta; e todo ramo que dá fruto, ele limpa, para que
dê mais fruto ainda» (Jo 15,1-2).Um lavrador esperançoso, mimando o racimo para
que alcance muita qualidade! Sim, queremos seguir ao Senhor! Sim, somos
conscientes de que o Pai pode ajudar-nos a dar abundante fruto em nossa vida
terrenal e depois gozar na vida eterna.
Santo Inácio guiava a São Francisco Xavier com as palavras do texto de hoje:
«De fato, que adianta alguém ganhar o mundo inteiro, se perde a própria vida?»
(Mc 8,36). Assim chegou a ser o patrono das Missões. Com a mesma nuança, lemos
o último Cânon do Código de Direito Canônico (n.1752): «Tendo-se diante dos
olhos a salvação das almas que, na Igreja, deve ser sempre a lei suprema». São
Agostinho tem a famosa lição: «Animam salvasti tuam predestinasti», que o ditado
popular traduziu-a assim: «Quem salva uma alma, garante a sua». O convite é
evidente.
Maria, Mãe da Divina Graça, nos dá a mão para avançar neste caminho.
Os sete fundadores da Ordem dos Servitas
Nos séculos XII e XIII, desenvolveram-se na Europa “comunas” de adeptos das artes liberais, nas quais o gosto pelos prazeres, luxo, ganância e domínio inevitavelmente cresceu, gerando conflitos e contrastando com os valores cristãos então vigentes na sociedade. A reação de muitos leigos foi unirem-se em confrarias de penitência ou movimentos propondo uma vivência radical do Evangelho, como por exemplo os Humilhados, os Valdenses, os Pobres Lombardos, mas principalmente as iniciativas de São Francisco de Assis e São Domingos de Gusmão. Na Itália, em Florença, surgiram os Laudesi, que se encontravam para, diante de uma imagem de Nossa Senhora, rezar e a Ela cantar louvores. Dentre os participantes havia os que mais seriamente queriam se comprometer com uma renovação da vida cristã, através de obras de caridade e de penitência. Sete amigos das mais aristocráticas e tradicionais famílias florentinas, da confraria chamada Associação-mor de Santa Maria, decidiram por este caminho: Amadeo degli Amidei, Manetto dell’Antella, Giovanni Buonagiunta, Alessio Falconieri, Buonfiglio Monaldi, Gherardion Sostegni e Ricovero dei Ugoccioni. Eram todos prósperos comerciantes de lã, mas deixaram os negócios e venderam todos os seus bens, deixando o suficiente para suas famílias e distribuindo o resto aos pobres. Em seguida mudaram-se para uma casa abandonada na periferia da cidade, mais tarde conhecida como Santa Maria de Caffagio. Ali viviam em perfeita comunhão, numa vida austera dedicada à oração, contemplação, penitência, mendicância e obras de caridade junto aos pobres e doentes. O bispo de Florença abençoou a iniciativa e solicitou que o governo municipal respeitasse a atuação daqueles “homens de paz”, um testemunho fundamental: a situação social era de guerras, e intrigas entre os guelfos, partidários do Papa, e os gibelinos, partidários do Império Germânico. Nesta casa, logo acorreram muitas pessoas, animadas com o seu exemplo. Nasceu assim a Ordem dos Servos de Maria, ou Servitas, com hábito negro em sinal de luto, em devoção à Nossa Senhora das Dores ao pé da Cruz. Procurando uma situação mais solitária e contemplativa, eles se mudaram em 1245 para o Monte Senário, numa casa rústica com um oratório dedicado a Maria. Mas mesmo a 18 quilômetros da cidade, as visitas continuavam, e muitos queriam participar da comunidade (dentre eles o futuro São Filipe Benício, que viria a ser o grande defensor, organizador e propagador da Ordem). A partir de então, novos conventos foram sendo criados. Dos sete fundadores, apenas Alessio não foi ordenado sacerdote; foi também o último a falecer, com 110 anos. Foram canonizados juntos, como se fossem um só, algo único na História da Igreja. Suas cinzas estão na mesma urna em Senário. Em 1267, São Filipe Benício, então Prior Geral, reformulou os Estatutos da Ordem, transformando-a em ordem mendicante. Junto com Santa Juliana Falconieri, sobrinha de Alessio, criou a Ordem Terceira da Congregação dos Servitas.(Colaboração: José Duarte de Barros Filho)
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