Oração: Deus Pai, que criastes a vida, concedei-nos por intercessão de São Joaquim e Santa Ana a graça de sermos como eles tão familiares a Nossa Senhora que, ignorados em tudo o mais, baste esta referência em nossa vida, para sermos plenamente conhecidos no Céu. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.
Evangelho segundo São
Mateus 13,18-23.
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Escutai o que significa
a parábola do semeador:
Quando um homem ouve a palavra do Reino e não a compreende, vem o Maligno e
arrebata o que foi semeado no seu coração. Este é o que recebeu a semente ao
longo do caminho.
Aquele que recebeu a semente em sítios pedregosos é o que ouve a palavra e a
acolhe de momento com alegria,
mas não tem raiz em si mesmo, porque é inconstante, e, ao chegar a tribulação
ou a perseguição por causa da palavra, sucumbe logo.
Aquele que recebeu a semente entre espinhos é o que ouve a palavra, mas os
cuidados deste mundo e a sedução da riqueza sufocam a palavra, que assim não dá
fruto.
E aquele que recebeu a palavra em boa terra é o que ouve a palavra e a
compreende. Esse dá fruto e produz ora cem, ora sessenta, ora trinta por um».(Tradução
litúrgica da Bíblia)
Beato Guerric de Igny (c. 1080-1157) abade cisterciense - 2.º sermão para a Anunciação; SC 202
Maria, a terra boa que dá fruto
O Verbo, a Palavra de Deus,
fez-Se carne e habitou entre nós (cf Jo 1,14). […] A Sabedoria de Deus (cf 1Cor
1,24) começou a construir para Si a morada (cf Prov 9,1) de um corpo como o
nosso no seio da Virgem […]; sem cooperação de homem, tomou do corpo da Virgem
a carne destinada à nossa redenção. E o Senhor dos exércitos está connosco (cf
Sl 45,8) desde este dia, o Deus de Jacob é a nossa força, porque o Senhor tomou
a nossa condição humana para que a glória habite na nossa terra (cf Sl 84,2).
Sim, Senhor, Tu abençoaste a terra, a terra abençoada entre todas as mulheres
(cf Lc 1,28). Tu difundiste a graça do Espírito Santo para que a nossa terra dê
o fruto das suas entranhas (cf Sl 84,13) e para que, do orvalho descido dos
céus sobre o seio virginal, germine o Salvador (cf Is 45,8). Esta terra tinha
sido amaldiçoada por causa do Mentiroso (cf Jo 8,44) e, mesmo quando era
trabalhada, dela nasciam espinhos e cardos para os herdeiros da maldição (cf Gn
3,17-18). Mas hoje a terra foi abençoada pela presença do Redentor, e produz
para todos a remissão dos pecados e o fruto da vida, apagando nos filhos de
Adão a marca da maldição original. Sim, ela é abençoada, esta terra
absolutamente virgem que, sem ter sido tocada, nem cavada, nem semeada, fez
germinar o Salvador apenas do orvalho do céu, e fornece aos homens o pão dos
anjos, alimento de vida eterna. Esta terra não cultivada parecia estar
descarnada, mas tinha oculta em si uma colheita abundante (cf Sl 77,25);
parecia um deserto inabitado, mas era um paraíso de delícias. Sim, este lugar
solitário era o jardim onde Deus encontrava toda a sua alegria.
Santa Ana e São Joaquim (pais de Nossa Senhora)
As informações sobre os pais da Virgem Maria, São Joaquim e Santa Ana, incluindo seus nomes, não se encontram na Bíblia, mas vêm de referências de textos apócrifos, como o Protoevangelho de Tiago e o Evangelho do Pseudo-Mateus, além da Tradição. Tais fontes indicam que moravam em Jerusalém, eram judeus exemplares e piedosos, e assim esperavam a vinda do Messias. Ana era filha de Achar e irmã de Esmeria, a mãe de Isabel e avó de São João Batista. Joaquim era um homem piedoso e muito rico, da tribo de Davi. Depois de casados, não tiveram filhos, o que, para a mentalidade judaica, era sinal de falta da bênção de Deus e condição humilhante. Suplicaram então a Deus, com orações, lágrimas e jejuns, a graça de gerarem um filho, mesmo já tendo chegado à velhice. O pedido foi atendido, e à filha deram o nome de Mirian (Maria), que significa “a amada”, “a esperada”, “a desejada”. Até os três anos de vida, Maria morou com os pais numa casa próxima à piscina de Betesda (ou Betzaeda, Betezatá, Betsata, Betzada), onde Jesus anos depois curou milagrosamente um paralítico (Jo 5,1-9). Os Cruzados construíram no local, no século XII, uma igreja dedicada a Santa Ana, ainda existente. Foi então levada pelos pais ao Templo de Jerusalém, para ser consagrada a seu serviço, em sinal de gratidão. Só em 1969 a Igreja definiu um dia único para venerar o casal, 26 de julho. Anteriormente, apenas Santa Ana era festejada, e em datas diferentes no Ocidente e no Oriente. Ela é invocada como padroeira das mães (que pedem um parto feliz, filhos saudáveis e leite suficiente para amamentar) e das viúvas, nos partos difíceis e contra a esterilidade conjugal. Santana ou San’Ana é também nome de muitas localidades e adotado igualmente como sobrenome familiar.(Colaboração: José Duarte de Barros Filho)
Reflexão: Independentemente da exatidão dos dados históricos sobre os pais de
Nossa Senhora, que contudo não são necessariamente falsos e condenáveis e podem
ser aceitos com razoabilidade, o que unicamente importa é que foram
especialmente abençoados por Deus. E seus nomes conhecidos, em Hebraico,
exprimem coerentemente as suas pessoas: Ana é “graça”, e Joaquim “Javé prepara”
ou “Javé fortalece”. Imensa é a graça, a fortaleza, e o preparo, necessários
para alguém ser responsável por Nossa Senhora! E para nós, que A queremos levar
no coração por toda a vida, não menores são a graça, o preparo e a fortaleza
indispensáveis para viver responsavelmente qualquer devoção e consagração a Ela
oferecidas. A vida espiritual não pode ser leviana. Deus nos pedirá contas do
modo como tratamos a Sua Mãe. Mesmo para quem não Lhe é devoto, ao menos um
santo respeito é exigido, mas sobretudo é o amor filial, íntegro, simples,
verdadeiro, que basta na relação com a mais acolhedora das mães. Não gerar
vida, diante de Deus, é sim algo humilhante, não em relação à do corpo, mas à
da alma… Logo, como Joaquim e Ana roguemos incessantemente a Deus, entre
lágrimas sinceras e jejum dos pecados, da indiferença e da acomodação, para
sermos solo fecundo. Caso contrário, o tempo inevitavelmente passará, e a
velhice de alma, que corresponde a uma paralisia no trato com Deus, nos tornará
estéreis na caridade, as boas obras que são o sinal de vida eterna. Somente na
intimidade fecunda com o Espírito Santo é que poderemos gerar esta vida. Mas
toda vida que nasce precisa crescer, e por isso deve ser consagrada ao Senhor,
para que, imersa na piscina de Suas bênçãos, se torne “Mirian”: a vida amada, a
vida desejada, isto é, a vida infinita. A união da alma com Deus gera frutos de
caridade, que crescem e se transformam na vida celeste que esperamos. É natural
que contemos com esta sabedoria nas pessoas mais velhas (embora atualmente o
hedonismo e o ateísmo corrompam mesmo muitos dos que mais deveriam estar
atentos à inevitabilidade da morte), e sobretudo que a saibam transmitir às
novas gerações. É um dos maiores bens que os idosos podem fazer,
santificando-se e aos demais, pois a autoridade deste seu apostolado tem
profunda repercussão na formação dos jovens e crianças. O seu exemplo de
fidelidade aos verdadeiros valores, sob as mais diferentes circunstâncias,
através de um longo período de tempo, é em si uma santificação. Por isso os
mais idosos, no contexto bíblico, estão associados a referência de respeitosa
veneração (cf. 2 Mc 6,23). São Joaquim e Santa Ana são portanto modelo na
santidade vivida em idade avançada. A eles devemos rogar, pedindo pelo resgate
da valorização dos mais velhos na sociedade atual, que senil e estéril de
comunhão com Deus, induz crianças, jovens e adultos a menosprezarem e mesmo promoverem
o “desfazer-se” dos anciãos, pelo crime da eutanásia.
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