Missa de Domingo de Ramos: Papa descreve qual é a grandeza da vida
Papa Francisco no Domingo de Ramos. Foto: Vatican Media Vaticano, 28 mar. 21 / 09:17 am (ACI).- Ao iniciar a Semana Santa, com a celebração da Missa da Paixão do Senhor neste Domingo de Ramos, o Papa Francisco descreveu em que consiste a grandeza da vida.
“Recomecemos do assombro; olhemos o
Crucificado e digamos-Lhe: “Senhor, quanto me amais! Como sou precioso a vossos
olhos!” Deixemo-nos surpreender por Jesus para voltar a viver, porque a
grandeza da vida não está na riqueza nem no sucesso, mas na descoberta de que
somos amados. Esta é a grandeza da vida, descobrir-se amados e a grandeza da
vida está na beleza de amar”, advertiu o Papa.
Pelo segundo ano consecutivo, a Missa
do Domingo de Ramos não foi realizada na Praça de São Pedro devido às medidas
restritivas da Covid-19.
No entanto, este ano houve uma
pequena procissão com ramos do Papa com os cardeais que
concelebraram a missa. A procissão foi do altar da confissão até o altar da
cátedra, onde se celebrou a Eucaristia.
Cerca de 120 fiéis também puderam assistir à cerimônia, mas permaneceram em
seus lugares com um pequeno ramo de oliveira.
No início da Missa, o Santo Padre
recordou a entrada de Cristo em Jerusalém com esta oração: “Irmãos e irmãs,
desde o início da Quaresma começamos
a preparar os nossos corações com penitências e obras de caridade. Hoje estamos
aqui reunidos para que com toda a Igreja possamos
entrar no mistério pascal de nosso Senhor Jesus Cristo, que, para dar
cumprimento real à sua paixão e ressurreição, entrou na sua cidade, Jerusalém,
por isso sigamos o Senhor recordando a sua entrada salvífica com fé e devoção,
para que possamos participar no mistério da cruz pela graça, e possamos
participar na ressurreição e na vida eterna”.
Em seguida, como é tradição, o Papa
abençoou os ramos de oliveira, um diácono cantou o trecho do Evangelho de São
João que narra a entrada de Jesus em Jerusalém, e depois aconteceu a procissão
formada por 30 cardeais e, no final dela, o Pontífice.
Durante a missa, foram lidas as
leituras e o Evangelho da Paixão do Senhor foi cantado por três solistas e um
coro.
Na homilia, o Papa sublinhou que
“todos os anos, esta liturgia cria em nós uma atitude de espanto, de surpresa:
passamos da alegria de acolher Jesus, que entra em Jerusalém, à tristeza de O
ver condenado à morte e crucificado. É uma atitude interior que nos acompanhará
ao longo da Semana Santa”.
“Jesus começa logo por nos
surpreender. O seu povo acolhe-O solenemente, mas Ele entra em Jerusalém num
jumentinho. Pela Páscoa, o seu povo espera o poderoso libertador, mas Jesus vem
cumprir a Páscoa com o seu sacrifício. O seu povo espera celebrar a vitória
sobre os romanos com a espada, mas Jesus vem celebrar a vitória de Deus com a
cruz. Que se passou com aquele povo que, em poucos dias, passou dos «hossanas»
a Jesus ao grito «crucifica-O»? O que aconteceu?”, advertiu o Papa.
Nessa linha, o Santo Padre disse que
aquelas pessoas “seguiam mais uma imagem de Messias do que o Messias. Seguiam
uma imagem, não o Messias. Admiravam Jesus, mas não estavam prontas para se
deixar surpreender por Ele” e explicaram que “a surpresa é diferente da
admiração” porque “a admiração pode ser mundana, porque busca os próprios
gostos e anseios de cada um; a surpresa, ao contrário, permanece aberta ao
outro, à sua novidade”.
“Também hoje há muitos que admiram
Jesus: falou bem, amou e perdoou, o seu exemplo mudou a história... Admiram-No,
mas a vida deles não muda. Porque não basta admirar Jesus; é preciso segui-Lo
no seu caminho, deixar-se interpelar por Ele: passar da admiração à surpresa”,
indicou.
Neste sentido, o Papa sublinhou que o
mais surpreendente do Senhor e da sua Páscoa é “o fato de Ele chegar à glória
pelo caminho da humilhação.” e acrescentou que “fê-lo por nós, para tocar até
ao fundo a nossa realidade humana, para atravessar toda a nossa existência,
todo o nosso mal; para Se aproximar de nós e não nos deixar sozinhos no
sofrimento e na morte; para nos recuperar, para nos salvar”.
“Jesus sobe à cruz para descer ao
nosso sofrimento. Prova os nossos piores estados de ânimo: o fracasso, a
rejeição geral, a traição do amigo e até o abandono de Deus. Experimenta na sua
carne as nossas contradições mais dilacerantes e, assim, as redime e transforma.
O seu amor aproxima-se das nossas fragilidades, chega até onde mais nos
envergonhamos. Agora sabemos que não estamos sozinhos! Deus está conosco em
cada ferida, em cada medo: nenhum mal, nenhum pecado tem a última palavra. Deus
vence, mas a palma da vitória passa pelo madeiro da cruz. Por isso, os ramos e
a cruz estão juntos”, destacou.
Por isso, o Papa convidou esta Semana
Santa a levantar “o olhar para a cruz a fim de recebermos a graça do assombro”
e relatou que São Francisco de Assis, olhando para o Crucificado, ficou
maravilhado que os seus frades não chorassem.
“E nós, conseguimos ainda deixar-nos
comover pelo amor de Deus? Porque é que já não sabemos surpreender-nos à vista
d’Ele? Talvez porque a nossa fé foi corroída pelo hábito; talvez porque ficamos
fechados nas lamúrias e deixamo-nos paralisar pelos dissabores; talvez porque perdemos
a confiança em tudo, chegando ao ponto de nos consideramos fracassados. Mas,
por trás destes «talvez», encontra-se o fato de não estarmos abertos ao dom do
Espírito, que é Aquele que nos dá a graça do assombro”, afirmou.
Por fim, o Santo Padre destacou a
cena do centurião que descreveu como "a imagem mais bela do assombro"
porque, ao ver Jesus morrer, exclamou: “Verdadeiramente este homem era Filho de
Deus!” e acrescentou: “E de que maneira vira Jesus morrer? Viu-O morrer amando
e isso o maravilhou. Sofria, estava exausto, mas continuava a amar. Eis aqui a
surpresa diante de Deus, que sabe encher de amor o próprio morrer. Neste amor
gratuito e inaudito, o centurião, um pagão, encontra Deus. Verdadeiramente era
Filho de Deus! A sua frase chancela a Paixão.”
“Irmãos e irmãs, hoje, Deus ainda
surpreende a nossa mente e o nosso coração. Deixemos que nos impregne este
assombro, olhemos para o Crucificado e digamos também nós: ‘Vós sois
verdadeiramente Filho de Deus. Vós sois o meu Deus’”, concluiu o Papa.
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