SÃO FRANCISCO DE ASSIS
Oração: Senhor Deus, imutável e
constante no Vosso amor, dai-nos a graça de buscar, por intercessão de Santa
Eufrásia, somente Vos servir, sem desejar aparecer para o mundo ou alimentar o
próprio orgulho, mas, atentos à vida normal dos irmãos, percebermos as suas
necessidades e servi-los a partir da sincera comunhão Convosco. Por Nosso
Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, e Nossa Senhora. Amém.
Evangelho segundo São Lucas 4,24-30.
Naquele tempo, Jesus veio a
Nazaré e falou ao povo na sinagoga, dizendo: «Em verdade vos digo: Nenhum
profeta é bem recebido na sua terra.
Em verdade vos digo que havia em Israel muitas viúvas no tempo do profeta
Elias, quando o céu se fechou durante três anos e seis meses e houve uma grande
fome em toda a Terra;
contudo, Elias não foi enviado a nenhuma delas, mas a uma viúva de Sarepta, na
região da Sidónia.
Havia em Israel muitos leprosos no tempo do profeta Eliseu; contudo, nenhum
deles foi curado, mas apenas o sírio Naamã».
Ao ouvirem estas palavras, todos ficaram furiosos na sinagoga.
Levantaram-se, expulsaram Jesus da cidade e levaram-no até ao cimo da colina
sobre a qual a cidade estava edificada, a fim de O precipitarem dali abaixo.
Mas Jesus, passando pelo meio deles, seguiu o seu caminho.(Tradução
litúrgica da Bíblia)
Santo Ambrósio (c. 340-397) - bispo de Milão, doutor da Igreja - Sobre as viúvas; PL 16, 247-276
A fé da viúva de Sarepta, que acolhe o enviado de Deus
Num tempo em que a fome desolava a Terra, porque terá Elias sido enviado
a uma viúva? Há uma graça especial a ligar duas mulheres: um anjo é enviado a
uma virgem e um profeta é enviado a uma viúva. Ali Gabriel, aqui Elias; e são
escolhidos o anjo e o profeta mais eminentes! Mas a viuvez, em si mesma, não
merece louvores, se não se lhe acrescentarem outras virtudes. À história não
faltam viúvas; contudo, há uma que se distingue entre todas e as exorta com o
seu exemplo. […] Deus é particularmente sensível à hospitalidade: no evangelho,
promete uma recompensa eterna por um copo de água fresca (cf Mt 10,42); aqui, a
profusão infinita das suas riquezas por um pouco de farinha ou uma medida de
azeite. […] Porque nos julgamos donos dos frutos da terra quando a terra é uma
oferenda perpétua? […] Invertemos, para nosso benefício, o sentido daquele
mandamento universal: «Também vos dou todas as árvores de fruto com semente,
para que vos sirvam de alimento; e todos os animais da terra, todas as aves dos
céus e todos os seres vivos que existem e se movem sobre a terra» (Gn 1,29-30);
ao açambarcar, só encontramos o vazio e a escassez. Como podemos esperar o
cumprimento da promessa, se não observamos a vontade de Deus? Obedecer ao
preceito da hospitalidade e honrar os nossos hóspedes é um são procedimento;
pois não somos também nós hóspedes aqui na Terra? Como é perfeita esta viúva!
Embora atormentada por uma grande fome, continuava a venerar a Deus; e não
guardava as provisões só para si: partilhava-as com o filho. Ela é um belo
exemplo de ternura, mas é um exemplo ainda mais belo de fé! Pois esta mulher
não deveria preferir ninguém a seu filho, mas eis que coloca o profeta de Deus
acima da sua própria vida. Reparai bem que não lhe deu apenas um pouco de
comida, mas toda a sua subsistência, não ficando com nada para si. Assim como a
sua hospitalidade a inspirou a uma doação total, assim também a sua fé a conduziu
a uma confiança total.
Eufrásia nasceu em Constantinopla, hoje Istambul na Turquia, por volta de 380. Era filha única de pais ricos e convertidos ao Cristianismo, parentes do então imperador romano Teodósio. Assim ela passou a infância e juventude rodeada pelo luxo e prazeres da corte, que porém não a atraíam. De fato, sua mãe dedicava muito tempo ensinando-lhe o amor por Jesus e o horror do pecado, e seus pais, ainda que com posses, viviam de forma humilde. Falecido o pai, o ambiente na corte passou a ser de interesseiros em relação a elas. A mãe, buscando um lugar tranquilo onde pudessem se dedicar totalmente a Deus, levou-a para o Egito, onde recomeçaram a vida. Lá, ambas dedicavam-se à caridade junto aos pobres, à visita a hospitais e a conventos. Com dez anos, Eufrásia desejou permanecer num convento de religiosas que a acolhia. A mãe consentiu, e as irmãs em breve se impressionaram com a sua maturidade precoce, acompanhado-as na rotina com disciplina e pontualidade. Ali ela cresceu, com uma vida regular, na prática do jejum e das orações. Mas após o falecimento da mãe, o imperador a procurou, oferecendo-lhe um vantajoso casamento com um senador, através do qual a sua fortuna aumentaria ainda mais. Eufrásia recusou, reafirmando o desejo de manter-se virgem e seguir a vida religiosa. Em contrapartida, pediu a Teodósio que distribuísse aos pobres tudo o que herdara. Seguiu assim no convento, servindo com humildade as irmãs. Foram escritos relatos de que inúmeras graças e milagres aconteciam por sua intercessão, por exemplo a cura de menino moribundo quando ela fez sobre ele o sinal da Cruz. Praticava um rigoroso jejum, passando sem comer dias inteiros, e evitando carnes, ovos, óleo e leite. Jamais provava vinho ou algo que lhe agradasse o paladar. Mas seus maiores desafios vieram de problemas no convento, como os desmandos de uma abadessa doentia e as acusações infundadas de uma irmã. Em 12 de março de 412 a superiora teve uma visão, avisando-a de que Eufrásia iria morrer e ser proclamada santa. Eufrásia acreditou, embora fosse jovem e nada sentisse de mal. Por isso pediu para receber os últimos Sacramentos. No dia seguinte, efetivamente, ela começou a ter uma febre muito alta, e faleceu, sendo sepultada no próprio convento.(Colaboração: José Duarte de Barros Filho)
Reflexão:
A vida aparentemente isenta de grandes
acontecimentos de Santa Eufrásia é típica daquela santidade que em geral passa
desapercebida do mundo, ávido de turbulências e agitações notáveis – mesmo para
os cristãos. Um resumo superficial poderia indicar que era rica e passou a
infância sem problemas, descobriu bem cedo sua vocação religiosa que não teve
oposição, e passou a vida quase toda no recolhimento de um convento. Mas ao
contrário, desde a infância teve que se esforçar, claro que com a ajuda dos
pais, para fugir às seduções cortesãs do ambiente em que habitava, à facilidade
de uma vida fútil pela riqueza, ao assédio de interesseiros na sua virgindade e
fortuna; ao desconforto de mudar para uma terra e cultura distantes, onde
conheceu as mazelas humanas e não o ócio, a decisão precoce de se separar da
mãe e de se submeter a uma rígida disciplina; à pressão de um imperador e à
tentação de manter uma enorme herança, às dificuldades de uma vida em
comunidade reclusa, onde é necessária a obediência mesmo quando não é
equilibrada a direção, e onde as pequenas asperezas da limitada convivência
cotidiana se agigantam, sem que necessariamente estejam ausentes a falsidade, a
má-fé, a inveja, o orgulho… sem contar com as dores naturais da perda dos pais
por cima das penitências que, se bem que escolhidas livremente, não deixaram de
exigir constância e empenho em enfrentar responsavelmente estes grandes
desconfortos. E, naturalmente e mais importante, tudo isto feito por amor a
Deus e ao próximo, não por algum tipo de fuga ou egoísmo, mas com a busca e
esforço desde tenra idade no exercício interior de direcionar a alma para Deus.
Esta não é uma batalha menos heroica do que outras santas vidas repletas de
fatos e acontecimentos chamativos; e é a batalha pela santidade da imensa
maioria dos católicos, que de forma discreta, sem buscar alarde nos seus atos,
devem ser heroicos no dia a dia comum.
Tjl – evangeli.net – a12.com – acidigital.com
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