Oração: Senhor Deus, que substituístes o jardim
perecível do Éden pelas flores perenes da Redenção, concedei-nos por
intercessão de Santa Rosa de Lima a proteção da América Latina contra os Vossos
inimigos; e a graça de edificarmos a alma como uma cela de onde, estando com
Cristo, produzamos rendas e bordados de caridade para os irmãos, e assim
prevenidos das abordagens do diabo, da carne e do mundo, não sejamos por eles
invadidos, podendo ser recebidos na vida infinita pelo sorriso de Nossa
Senhora, Porta do Céu. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e por Vossa e Nossa Mãe.
Amém.
Evangelho (Mt 20,1-16):
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos esta
parábola: «Pois o Reino dos Céus é como o proprietário que saiu de madrugada
para contratar trabalhadores para a sua vinha. Combinou com os trabalhadores a
diária e os mandou para a vinha. Em plena manhã, saiu de novo, viu outros que
estavam na praça, desocupados, e lhes disse: ‘Ide também vós para a minha
vinha. Eu pagarei o que for justo’. E eles foram. Ao meio-dia e em plena tarde,
ele saiu novamente e fez a mesma coisa. Saindo outra vez pelo fim da tarde,
encontrou outros que estavam na praça e lhes disse: ‘Por que estais aí o dia
inteiro desocupados?’. Eles responderam: ‘Porque ninguém nos contratou’. E ele
lhes disse: ‘Ide vós também para a minha vinha’.
»Ao anoitecer, o dono da vinha disse ao administrador: ‘Chama os trabalhadores
e faze o pagamento, começando pelos últimos até os primeiros!’. Vieram os que
tinham sido contratados no final da tarde, cada qual recebendo a diária. Em
seguida vieram os que foram contratados primeiro, pensando que iam receber
mais. Porém, cada um deles também recebeu apenas a diária. Ao receberem o
pagamento, começaram a murmurar contra o proprietário: ‘Estes últimos
trabalharam uma hora só, e tu os igualaste a nós, que suportamos o peso do dia
e o calor ardente’. Então, ele respondeu a um deles: ‘Companheiro, não estou
sendo injusto contigo. Não combinamos a diária? Toma o que é teu e vai! Eu
quero dar a este último o mesmo que dei a ti. Acaso não tenho o direito de
fazer o que quero com aquilo que me pertence? Ou estás com inveja porque estou
sendo bom?’. Assim, os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os
últimos».
«Assim, os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos» - Rev. D. Antoni CAROL i Hostench(Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)
Hoje, a Palavra de Deus nos convida a perceber que
a “lógica” divina vai muito além da lógica meramente humana. Enquanto nós
homens calculamos («Pensando que iam receber mais»: Mt 20,10), Deus —que é Pai
entranhável— simplesmente, ama («Ou estás com inveja porque estou sendo bom?» :
Mt 20,15.) E a medida do Amor é não ter medida: «Amo porque amo, amo para amar»
(São Bernardo).
Mas isso não torna a justiça inútil: «Eu pagarei o que for justo» (Mt 20,4).
Deus não é arbitrário e quer nos tratar como filhos inteligentes: por isso é
lógico que tenha “acordos” conosco. De fato, em outros momentos, os
ensinamentos de Jesus deixam claro que quem recebe mais também será mais
exigido (lembremos da parábola dos talentos). Enfim, Deus é justo, mas a
caridade não se desentende da justiça, mas sim, a supera. (cf. 1Cor 13,5).
Um ditado popular afirma que «a justiça por justiça é a pior das injustiças».
Felizmente para nós, a justiça de Deus —repitamos, transbordante de seu Amor—
supera nossos esquemas. Se unicamente se tratasse de estrita justiça, nós,
então, estaríamos pendentes de redenção. Além disso, não teríamos nenhuma
esperança de redenção. Em justiça estrita não mereceríamos nenhuma redenção:
simplesmente, ficaríamos despossuídos daquilo que se nos tinha dado no momento
da criação e que rejeitamos no momento do pecado original. Examinemo-nos,
portanto, como agimos nos julgamentos, comparações e cálculos quando tratamos
os demais.
Além disso, se falarmos de santidade, temos que partir da base de que tudo é
graça. A mostra mais clara é o caso de Dimas, o bom ladrão. Inclusive a
possibilidade de merecer diante de Deus, é também uma graça (algo que nos é
concedido gratuitamente). Deus é o amo, nosso «proprietário que saiu de
madrugada para contratar trabalhadores para a sua vinha» (Mt 20,1). A vinha
(quer dizer, a vida, o céu...) é dele; nós somos convidados, e não de qualquer
maneira: é uma honra poder trabalhar aí e, assim “ganhar” o céu.
Isabel Flores y Oliva nasceu no ano de 1586 em Quives, província de Lima, Peru, décima de 13 irmãos de um rico casal espanhol. Contudo os negócios da família declinaram até a pobreza, e Isabel trabalhou na lavoura e como doméstica. “Rosa” era um carinhoso apelido que recebeu por sua beleza. Mas como desde pequena desejava se consagrar a Deus, e querendo evitar os riscos da vaidade, cortou os cabelos, dedicando-se a jejuns e penitências. Quando a quiseram casar, renovou o voto de castidade feito anterior e secretamente, e entrou para a Ordem Terceira Dominicana, imitando Santa Catarina de Sena, a quem tinha devoção. Nesta ocasião, mudou oficialmente o nome para Rosa de Santa Maria, o sobrenome em honra e veneração à Mãe de Deus. Construiu ela mesma uma pequena cela no quintal da casa dos pais, de formato quadrangular e baixa, onde se dedicava à oração e às penitências, muito árduas. Uma delas era o uso de uma coroa de espinhos de metal, que disfarçava com botões de rosas. Dormia sobre uma tábua com pregos e aumentou os dias de jejum. Esta cela era abafada e muitos mosquitos ali entravam; Rosa “pediu” a eles, em oração a Deus, que não a incomodassem, e foi atendida. Passou a ajudar no sustento da família fazendo rendas e bordados na mesma cela, com a permissão do seu confessor de só sair dali para receber a Eucaristia. Mas também auxiliava caridosamente os doentes, particularmente os negros e indígenas, na época tratados com desprezo e abandono. Seu permanente e íntimo contato com Deus a elevou para um alto grau de vida contemplativa e com extraordinárias experiências místicas. Certa vez, confrontou o demônio, que lhe apareceu numa parede externa da casa próxima à sua cela. Obteve ainda em vida muitas conversões e milagres, como a prevenção da invasão de piratas holandeses a Lima, em 1615. E uma Comissão mista de religiosos e cientistas a examinaram, para concluir que suas manifestações místicas eram verdadeiramente “dons da graça”. Rosa trabalhou como doméstica nos últimos três anos da sua vida, na casa de Don Gonzalo de Massa, um empregado do governo. Além das duras incompreensões e perseguições ao longo da vida, sofreu a cruz de uma grave e dolorosa doença. Neste período, dizia frequentemente: “Senhor, fazei-me sofrer mais, contanto que aumenteis meu amor para Convosco”. Com 31 anos apenas, na casa onde trabalhava, agora o Mosteiro de Santa Rosa, faleceu cumprindo uma profecia, pois todo ano passava o dia de São Bartolomeu em oração, dizendo: “Este é o dia das minhas núpcias eternas”. De fato, a data foi 24 de agosto, festa de são Bartolomeu, de 1617. Suas exéquias mobilizaram toda a cidade de Lima, e antes mesmo da sua canonização em 1671, cujo processo foi iniciado por aclamação pública apenas oito dias depois do seu sepultamento, foi proclamada Padroeira do Peru (1669), e da América Latina e das Filipinas (1670). Na bula de canonização, consta: “Não podia faltar à cidade dos Reis, como costuma chamar-se Lima, a estrela própria, que conduzisse a Cristo, Senhor e Rei dos Reis”. Santa Rosa de Lima é também padroeira dos jardineiros e dos floristas. Somente no Peru, há mais de 70 povoados com o seu nome. Quando do traslado do seu corpo para a Capela do Rosário, a imagem de Nossa Senhora, diante da qual rezara muitas vezes, sorriu-lhe, o que foi constatado pela multidão presente. +++ Colaboração: José Duarte de Barros Filho
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